segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Os ciganos e a religião



Apesar de guardarem a sete chaves o segredo de sua verdadeira religião e os preceitos religiosos que atendem às suas tradições, os ciganos – até para se defenderem das perseguições aos considerados pagãos ou infiéis -, costumavam e ainda adotam o costume de se converterem à religião dominante do país onde fixam suas moradias. Assim, como a maior parte dos ciganos vivem em países particularmente católicos, eles se declaram seguidores da fé católica, o que sem dúvida facilita suas andanças por terras europeias e de muitos países católicos das Américas. Se, além de atormentados e acossados por seus costumes ímpares, sua vida errante, seu modo de vida fechado aos não-ciganos e carregando injustas pechas de ladrões, falsários, charlatães, eles também acumulassem uma perseguição por causa da religião, com certeza eles teriam suas vidas muitíssimo mais complicadas. Daí, numa atitude bastante inteligente, que não diríamos forçada ou falsa, adotarem os fundamentos católicos, pelo menos para a grande plateia mundial.

Na verdade, porém, os ciganos passaram por um processo sincrético, procurando fundir suas crenças e divindades das terras de origem com outras doutrinas, reunindo-as num único sistema religioso, tal como fizeram os povos africanos que aportaram em terras do Brasil como escravos.  Os negros procedentes da África eram severamente castigados pelos feitores das fazendas brasileiras se cultuassem suas verdadeiras divindades. Que fizeram, então, para se livrarem das chibatadas e até da morte? Colocaram santos católicos a modo de disfarce de suas reais divindades, os orixás, apaziguando a ira dos feitores e dos senhores de engenho e ganhando inclusive, de certa maneira, a simpatia dos padres daquela época, tão íntimos dos donos da terra – afinal, “aquela negrada infiel tinha cedido aos apelos da verdadeira fé, a católica”. À guisa de um pequeno adendo podemos acrescentar que esta é a origem da umbanda no Brasil, agremiação religiosa que enfeixa fundamentos africanos autênticos com preceitos e imagens de santos católicos, à diferença do candomblé, que é o culto africano sem nenhuma miscigenação, ou seja, verdadeiro, puro, tal como se originou na Mãe-África.

Os ciganos, apesar de se declararem fiéis seguidores da fé católica, adotando muito de seus preceitos, mandamentos e festas religiosas, como a comemoração profundamente respeitosa da Semana Santa, também traziam suas divindades femininas e masculinas pagãs e que não se acomodavam às religiões cristãs. Então o que fizeram? O mesmo que os negros escravos no Brasil, indo buscar numa figura feminina considerada santa e cristã católica, Sara ou Santa Sara, sua mais venerada Padroeira.

Eles porém continuam acreditando em outros princípios, como o da reencarnação por exemplo, que absolutamente não se enquadra, pelo menos oficialmente, nos dogmas católicos. Crendo na reencarnação aceitam o mundo dos espíritos, bons e maus, a que rendem oferendas, nas forças da natureza como manifestações de divindades, na roda dos círculos cármicos e ausência de um Paraíso e de um Inferno determinados como destino final de toda alma vivente na face da terra após a morte do corpo físico. Também por acreditarem que o espírito volta em nova vestimenta carnal e nova vida ou encarnação para acertarem dívidas pendentes em vidas passadas, procuram viver da melhor maneira possível. Afinal, sabem ou crêem que se agirem mal, voltarão tantas vezes quantas necessárias para colocarem em ordem suas pendências geradas pela má ação, mau pensamento, más palavras e sentimentos.
                                      
O povo cigano crê em um só Deus, pai e soberano generoso e doador do livre-arbítrio a todos os seus filhos, indistintamente.

Conhecem a lei de causa e efeito, da ação e reação, assumindo suas dores e sofrimentos como gerados por eles mesmos, ou seja, que o ser humano sofre em razão de seus incorretos pensamento, sentimentos, palavras ou ações. Desta maneira é através de suas leis, as leis de Deus. Sob o ponto de vista religioso é um povo austero e severo, punindo duramente os infratores das leis humanas e divinas. Com isto, queremos dizer que eles não transferem para Deus a responsabilidade pelo castigo por seus erros e faltas. Deus é venerado sempre por sua magnanimidade, grandeza e fonte eterna e inesgotável de perdão.

Fonte: Texto de Rosaly Mariza Schepis
Livro: Ciganos, Os Filhos Mágicos da Natureza

domingo, 15 de dezembro de 2013

Oferenda a Santa Sára Kalí para que haja união e harmonia em família

Esta oferenda a Santa Sára Kalí deve ser feita em um dia de segunda-feira, de preferência na lua cheia.
Prepare um manjar com: amido de milho, leite (melhor ainda se for de cabra), um coco seco ralado e bastante açúcar. Coloque em louça (terrina) branca e deixe esfriar.
Escreva em um pedaço de papel branco, com caneta azul, o nome de todas as pessoas (familiares) que se deseja união e harmonia, coloca-se o papel por cima do manjar e cobre-se com bastante açúcar (cristal ou refinado) e finca-se no manjar 7 botões de rosas brancas, rogando a Santa Sára a união e a harmonia dos familiares. 
Deixar em casa por três dias, ao lado de uma vela branca ou azul clara de sete dias e uma taça com água.
Depois dos três dias, despachar o manjar (sem a louça) em uma árvore bem bonita, frutífera de preferência e frondosa.
 
Por Hérick Lechinski

Magia cigana para viver uma paixão arrebatadora com alguém

O vinho tem, para os ciganos, um significado todo especial, pois é uma bebida que vem de uma fruta com fortes ligações com a terra, mas que flutua acima dela, ao sol e no ar.
Muito mais do que uma simples bebida, o vinho chega ao requinte de ser considerado um afrodisíaco único, o verdadeiro e sempre cultuado em todo o mundo.
Quando uma cigana quer provocar uma paixão num homem, não uma simples paixão, mas algo realmente arrebatador, que torne desnecessários os três estágios da paixão, ela simplesmente dorme com uma garrafa de vinho tinto suave entre suas pernas durante as três primeiras noites da lua cheia, rezando e pedindo que a paixão surja e cresça entre ela e seu amado.
Após isso, ela convida seu escolhido para beber do vinho por ela encantado.

Magia cigana para não faltar fartura e prosperidade em sua casa

Em um dia de domingo, de Lua crescente, acenda uma vela dourada ou amarela, uma verde e uma branca ao lado de uma taça ou copo com água. Rogando a Cigana Esmeralda que traga fartura e prosperidade para a sua casa.
Coloque então em um prato de louça fundo ou em um pequeno tacho de cobre (lavado com água e sal e depois com água e açúcar): 21 folhas de louro, por cima 7 punhados de arroz com casca, por cima do arroz 1 cédula (com o valor virado para cima) de maior valor e por cima da cédula 21 moedas douradas. Incense isso com um incenso (massala) de nós moscada e ofereça a Cigana Esmeralda, fazendo seus pedidos de fartura e prosperidade.
Deixe em sua cozinha, troque uma vez por ano, jogando o louro e o arroz com casca em seu quintal e dando o dinheiro para um pedinte.
Por Hérick Lechinski

Magia cigana para proteção do seu lar

Esta magia cigana tem a finalidade de proteger o seu lar de toda negatividade (olho gordo, bruxaria, confusões, etc.), deve ser realizada em um dia de terça-feira, de lua cheia, de preferência às 06h00min, 13h00min ou 20h00min.
Em um pote (compoteira, bombonier, vaso) de vidro coloque sal grosso (1 kilo), por cima do sal e no meio do pote coloque uma ferradura de ferro (nova) com as pontas viradas para cima, circule a mesma com 21 dentes de alho branco com casca e 21 pimentas vermelha e borrife perfume (essência) de arruda por cima de tudo.
Coloque na entrada de sua casa, do lado de fora, ao lado de um copo ou taça com água mineral, uma taça de vinho tinto seco, uma vela vermelha, um incenso de arruda e ofereça ao Cigano Juan, rogando à Ele a proteção de sua casa e de sua família. Depois de um dia, despachar a água e o vinho em uma jardim e deixar apenas o vaso ao lado de sua porta, refazer esta magia de 7 em 7 meses, despachando os elementos do vaso em água corrente...

Por Hérick Lechinski

Magia cigana para afastar a negatividade de sua saúde

Muitas vezes um problema de saúde origina-se da carga negativa que alguém nos enviou ou mesmo que nós absorvemos inconscientemente num determinado ambiente.
Para conseguir evitar e anular este tipo de coisa faça esta magia com muita fé.
Deve ser feito em um dia de sábado, de Lua minguante.
Se não tiver, providencie um espelho de qualquer tamanho para usar no seu quarto. Olhe nele uma vez ordenando-o que ele absorva todo o mal e doença que estiver com você, depois o cubra com pano preto (virgem) pelo período de três dias. Após esse prazo, retire e queime o pano numa fogueira. Antes de voltar a usar o espelho, limpe sua superfície com um pano branco, molhado em água e sal grosso.
Todos os dias, quando despertar, olhar atentamente sua própria imagem no espelho e mentalize um círculo lilás em volta de você, transmutando toda energia negativa e todo tipo de doença em saúde.

Por Hérick Lechinski

Feitiço cigano para afastar pessoa indesejável

No terceiro dia de lua minguante, na beira de um rio (de preferência de noite), acenda uma vela branca (pedindo a sua proteção), uma vermelha (invocando o Cigano Juan) e uma preta (pedindo o afastamento da pessoa indesejável), queime em um pote ou travessa te barro (de preferência pintado de preto), pertences (uma peça de roupa, cabelo ou pedaços de unha) da pessoa indesejável, rogando a Juan que leve esta pessoa para bem longe de sua vida ou da vida de quem você desejar.
Depois que os pertences tornarem-se cinzas, jogue tudo no rio, mentalizando o afastamento de tal pessoa. 
E diga com bastante força:
“Pelo poder do fogo, que tudo queima e transforma, pela força das águas que correm para o mar, que Juan leve (fulano/a) para bem longe de mim e que ele(a) não cruze mais os meus caminhos. Que assim seja e assim se faça...”
Agradeça a espiritualidade (principalmente o Cigano Juan) e venha embora sem olhar para trás. Pedindo que nada de mal lhe acompanhe...
 
Por Hérick Lechinski

Filtro cigano para purificar a sua casa

Em um dia de sábado, de Lua minguante, coloque atrás das portas principais de sua casa: um copo de vidro com água, 21 pedrinhas de sal grosso, 3 pedras pequenas de carvão e 1 galho de arruda (verde), rogando a espiritualidade maior (Deus - Devla) e a sua devoção que purifiquem sua morada de todos os males espirituais e materiais. 
Quando o carvão afundar despache tudo (menos o copo) em água corrente ou em uma encruzilhada longe de sua casa, pedindo que todo o mal e negatividade de sua casa sejam levados para longe, se extinga. 
Venha embora sem olhar para trás.
Chegando em casa tome um banho de sal grosso do pescoço para baixo e um de açúcar cristal dês de cabeça e vista uma roupa branca ou clara.
 
Por Hérick Lechinski

sábado, 14 de dezembro de 2013

Manglimos Katar Sara Kali - Oração à Santa Sara Kali

Manglimos Katar e Santa Sara Kali Tu Ke San Pervo Icana Romli Anelumia Tu Ke Biladiato Le Gajie Anassogodi Guindiças Tu Ke daradiato Le Gajie, Tai Chudiato Anemaria Thie Meres Bi Paiesco Tai Bocotar Janes So Si e Dar, E Bock, Thai O Duck Ano Ilô Thiena Mekes Murre Dusmaia Thie Açal Mandar Thai Thie Bilavelma Thie Aves Murri Dukata Angral O Dhiel Thie Dhiesma Bar, Sastimôs Thai Thie Blagois Murrô Traio Thie Diel O Dhiel.

Suntô Mariônê – Ave Maria

Suntô Marionê, pérdô san ando svêtô ô Del tu sai.
Uusí san angla Sá e juvliá uusôi ô fruktô kai arakádilas tutar Jesus.

Suntô Mariônê Del leski dei rudissar paala amarre becerra akaanak ai Kanã méérassa.

Dat Amarô – Pai Nosso

Dat amaro cai san ando tchêri
Súnto si tiro anáv
Av aménde ando tiro rhaio
Ai te avêl pô tiro Kate pe luma SAR ando tchêri
Ô mânro amaro saco diêsco, deamem
Adiês, ai ertisar amarhê bezerrhá.
Sar ame ertisarás codolêngue cai
Querén nassulipê améngue
Na muk te querás nassulipê, ai dik pala amendê
Sóstar tórôi ô rhaio ê zôr ai blichís míndik.

Amém!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Sára Kalí, a Santa Protetora dos Manush/Sinte


A primeira menção histórica a respeito de Sarah la Kali foi encontrada em um texto escrito em 1521, por Vincent Philippon intitulado, A Lenda das Santas-Marias. Suas páginas manuscritas encontram-se agora na biblioteca de Arles. Nesta versão da lenda, Sarah vivia em Camargue, sul da França (sem mais detalhes) entre ciganos do clã Sinte.

De acordo com outra narrativa, Sarah era de nascença uma egípcia e foi para a Palestina como escrava de José de Arimatéia. Este, que no ano 50 d.C empreendeu fuga da perseguição romana aos cristãos, viajando através do mar em uma pequena embarcação acompanhado de Maria Jacobina (irmã de Maria de Nazaré), Maria Salomé(mãe dos apóstolos João e Tiago) e Maria (mãe de Jesus). Eles se depararam com uma tempestade severa e segundo essa versão da lenda, Sarah guiou a todos, por meio da leitura das estrelas, para a costa distante, no sul da França.

Em outra lenda que nós, ciganos Sinte, acreditamos muito mais... Sarah la Kali foi uma cigana que estava acampada na costa ao sul da França, quando o barco em questão se aproximou. E o contato entre ela e as "marias vindas do mar" se deu da seguinte forma: de acordo com Franz Ville, autor do livro (Tziganes, editado em Bruxelas 1956): "Uma de nossa gente foi quem recebeu a primeira revelação e essa pessoa foi Sarah la Kali. Nascida em uma família cigana, Sarah la Kali foi a pessoa principal de seu clã em Rhone (antigo nome da atual cidade de Saint Marie de La Mer). Ela foi escolhida como sacerdotisa-iniciada nos elementos Terra, Água e Ar e é por esse motivo que se vestia de preto, daí seu nome Sarah la Kali (em Romanês, Kali significa preto). Conhecedora de todos os segredos a ela transmitidos, e diga-se de passagem eram muitos os segredos; pois nós, ciganos, a esse tempo já conhecíamos os fundamentos de várias religiões e dominávamos várias formas de ocultismo. Nessa época uma vez por ano, os ciganos Sinte colocavam em seus ombros a estátua de ISHTAR (a filha da Lua) e entravam no mar para receber suas bênçãos (fato que atualmente ocorre com a imagem de Sarah la Kali). Ainda há registros nas tradições orais em Romani desta parte da lenda:

“um dia Sarah la Kali teve visões que a informaram: as "marias" que estiveram presentes à morte de Jesus viriam para sua região e que ela as ajudaria. Sarah viu-as chegando em um barco. O mar estava bravio e ameaçava afundar a embarcação. Sarah lançou seu lenço nas ondas e, usando o mesmo, caminhou sobre as águas ajudando as "marias" a desembarcarem em segurança.”

Na verdade Saintes-Maries-de-la-Mer, ou "santas marias do mar", é uma pequena vila de pescadores localizada no centro-sul da costa do mediterrâneo, França, na região de Camargue de Bouches-du-Rhone. Escavações arqueológicas e lendas locais indicam que a região tem sido venerada como um lugar sagrado por uma sucessão de culturas, incluindo os celtas, romanos, cristãos e, mais recentemente, nós, os ciganos. Uma vez que era o local sagrado da deusa tríplice celta – ligada às águas (a deusa tríplice é o cerne das religiões pagãs e está presente em diversas culturas). Na cultura celta, há várias deusas que assumem esse papel de deusa tríplice, trazendo em si as três fases da vida: nascimento, crescimento e morte. São representadas por uma mulher que traz em si a adolescente, a mãe e a anciã. O três ou a tríade, antes mesmo de ser usado no Cristianismo, era a base da magia e religião celta, pois se baseava não só nas três fases da vida, mas também nas estações (que no início eram contadas como três – sendo que uma dependia da Terra, outra da Água e a última do Ar). Em época celta a cidade possuía uma deusa da primavera conhecida pelo nome de Oppidum Priscum Ra. A adoração à deusa tríplice da água foi substituída por templos romanos dedicados a Artemis, Cibele e Ísis. Já em 542 dC, a cidade era conhecida como Saintes-Maries-de-la-Barca, em 1838, recebeu seu nome atual: o de “Saint Maries de la Mer”. Fontes históricas mencionam uma igreja do século 9 construída na vila, mas muito pouco se sabe sobre a história da cidade antes do século 14, por causa de sua localização remota. Não se sabe exatamente quando e por que a igreja da vila se tornou o local mais sagrado dos ciganos "manushes", algum tempo após sua chegada na Europa no início dos anos 1400.

Outros aspectos de Sarah la Kali:
 
Quando nas lendas aparece a referência de que ela foi escolhida como sacerdotisa iniciada, na realidade isso equivale a dizer: ela era a personificação de uma Shakti. E dentro dos conceitos atávicos que trouxemos do norte da Índia, como personificação de uma Shakti, Sarah la Kali exercia a proteção dos oprimidos e perseguidos e é por isso que alguns clãs ciganos peregrinam rumo ao "santuário" de Sarah la Kali, em Saint Marie de la Mer, na França.

Nicolas Ramanush